Este fim-de-semana, fui vítima de bullying animal. Sim, leram bem. Bullying animal. Ora, conheci o raio de um gato que fazia jus - até demais - à típica curiosidade gatal, andando a cheirar tudo, mexer, tocar, observar e morder. Queria era mordiscar.
Tudo começou em um belo dia de inverno, em que não estava frio nem calor, sol no céu sem nuvens e eu fiquei fechada o dia todo dentro de uma casa. Nada como aproveitar o fim-de-semana e o sol, apanhando ar nas pestanas, não é verdade? Pois, mas não. Ora, o raio do espécime de rabo comprido e que anda como se fosse um lorde, começou por se esconder: contra todas as probabilidades, o raio do bichano é tímido. Esconde-se debaixo das camas, atrás dos sofás. Pena que a timidez só lhe dê nesse aspecto, porque nos outros, é um descarado até mais não.
Ouvi um restolhar vindo do quarto. "Que raio... que se passa?" e olho para dentro do quarto e não é que vi o gato a roer uma estátua de uma Nossa Senhora de Fátima. Só lhe disse amavelmente: "Se a tua dona te vê, vais levar pantufada nos bigodes, só te estou a avisar". Quer dizer... além de arisco, deve ser ateu. Uma coisa é certa, estava a testar a resistência e qualidade de fabrico da estátua. No fundo, nada como submeter o produto ao consumidor, a fim de se aperfeiçoar o que for necessário e assim, garantir a qualidade do material e do produto final. Nota: A quem faz estátuas de santinhos, pensem nisto: contractem gatos para fazerem os testes de qualidade. É que não há melhor!
Enxotei o bicho e foi vê-lo a esconder-se atrás do sofá, no escuro. Baixava-se, escondia-se, levantava, sem sair do sítio. Achava mesmo que eu não o estava a ver pois o quarto estava escuro como o breu, o que o denunciava era o reflexo da luz nos seus olhos, que eu olhava lá para dentro e via dois faróis apontados para mim e ria-me da inocência do animal que, embora não fosse "gato escondido com o rabo de fora", era quase.
E assim, ficámos apresentados. Ao longo do dia, de todas as malas penduradas no bengaleiro, a minha é que o seduziu... bem como de todo o calçado, os meus ténis é que lhe pareceram dignos de umas mordiscadelas. Não contente, subia para a bancada da cozinha e andou a cheirar o meu telemóvel. Avisei-o de que gostava de comer gatinhos assados no forno e para ele se portar bem, que o forno ainda estava quente do almoço. Não me passou bilhete. Mas passou sim a sua curiosidade e os seus bigodes coscuvilheiros do telemóvel para os meus óculos. Então, sacana do bicho, cheirou e cheirou e cheirou e vai de abocanhar os meus óculos de sol, para fugir com eles! Ó senhores... óculos de sol? Está bem que aqueles eram lente cateye - e são mesmo, imaginem o que me ri com a ironia da situação - e se calhar tocaram-lhe ao coração, mas quer-se dizer! Só lhe mandei um berro que assustei toda a gente ali em um raio de 5 kms, o terror de bigodes lá largou os óculos no sítio e patinhas para que vos quero.
Se realmente acham que ele acalmou, desenganem-se. O animal estava mesmo possuído e só estava bem a fazer bilharetas. Só me fazia lembrar de um outro gato que era tão mas tão curioso, que a dona tinha uma vela acesa e ele foi cheirar. Resultado, queimou os bigodes. Nunca mais foi cheirar uma vela. Ah pois é.
O caso deste, espalha terror a tudo e a todos. Têm para dar e vender. Invés de "um olho no burro e outro no cigano", temos mesmo é de estar a pau com o gato, que anda sempre a inventar.
Agora sim, compreendo perfeitamente quem escreveu a música "atirei o pau ao gato". Não há pachorra quando estão ligados à corrente e ao disparate, possas! E eu devo ter mel, só pode.