Tenho o hábito, de ter um copo com água, na cabeceira da cama, desde sempre. Bem, começou pela preguiça de me levantar a meio da noite para ir beber água - sou daquelas que acorda de repente com uma sede tremenda, capaz de secar todos os lagos, lagoas e poças do mundo, tragando tudo o que é água até cair para o lado - de modo que acordar de manhã com a boca a parecer uma lixa seca, língua encarquilhada e sininho enroladinho, não dá lá muita jeiteira. É assim, convenhamos... então está uma pessoa no aconchego das mantas, têm vontade de beber água, levanta-se, vai à cozinha ou à casa-de-banho, volta para as mantas já meio desperto. E adormecer? Ah pois é... Depois custa. E no inverno, com o friozinho que se sente fora do conforto do belo do edredon, a malta têm de pensar em soluções. A minha foi um copo de água na mesa de cabeceira. Demorei anos a aperfeiçoar a técnica. Cheguei a dormir com um garrafão de 2,5 lts de água, para fazer o refill ao copo, tal era a esganadeira da mulher - sereias... precisam de água, não é verdade? - a ter também garrafas de água médias e pequenas, até escolher o copo perfeito. É que além da preguiça de me levantar da cama, a mesma adaptou-se e passou a ser preguiça de me levantar dos lençóis, o que era mau, pois copos altos, molhava-me... copos baixos, pouca água... canecas, a pega dá jeito mas não me ajeitei com aquilo e garrafas de água então... nem me falem delas. Cheguei então até ao copo perfeito.
Ultrapassada a situação da sede, do caqueiro perfeito e do apanhar frio ou custar a adormecer, após todos estes anos de estudo, naturalmente deu-se outra evolução: já nem acendo a luz. É só esticar a barbatana, agarrar o copo e vai de embutes. Ahhh água fresquinha, sabe bem sim, a meio da noite. Agora, há um senão de beber água às escuras: e os bichos pá? Pois é! As mosquitas que gostam de nadar de costas, as aranhas que de vez em quando lá se lembram de ir tomar banho... bem dentro do abençoado copo de água nocturno!
Sabem, é como os carneiros dos figos, às vezes é preferível nem saber nem ver, porque se assim for, ninguém come figos. É como aquela estatística que diz que durante a noite, o ser humano ingere não sei quantas aranhas, moscas, mosquitos, durante um ano. Pois olhem, comigo a beber água sem acender a luz, devo de andar a papar animais que pertencem às estatísticas de outras pessoas.
Bem que eu de manhã, muitas vezes acordo com a sensação de estar aconchegadinha e outras com uma fome dos diabos... Devem ser os dias em que não apanho um snack na água, depois de manhã, quero comer este mundo e o outro.
Lado positivo: ao menos não engordam. Digo eu... Se calhar aquelas pessoas que dizem que até engordam com o ar, andam a dar nos snacks nocturnos sem dó nem piedade e nem dão conta. É só abrir a boca e aspirar. Sem espinhas!
E eu? Eu vou continuar a beber água, à noite, às escuras. Que se danem os bichos. Se não querem ser papados, não vão tomar banhos ou fazer piscinas nos copos alheios. É para o lado que durmo melhor.