Deve de lhes cheirar à distância.
Isto de limpar os vidros do aquário, têm muito que se lhe diga. Ora imaginem, é vidro por todo o lado e andar a esfregar o alguedo, é obra. Mas se há coisa maravilhosa, é poder olhar para a rua através daqueles vidros cristalinos, depois de tanta trabalheira! O que deixa de ter graça é começarem a aparecer mosquinhas e melguinhas e o raio que as partam, vinda de não sei de onde - mais uma vez, a experiência sustenta a teoria dos portais dimensionais - e é só vê-las ali, alegres e felizes a passarinhar nos vidros limpinhos, sob o meu olhar de frustração e veia de mosquicida a latejar.
Vos garanto que muitas vezes abro as janelas, para elas irem para a rua sem sofrerem danos físicos e se habilitarem a ficarem mancas das antenas mas há dias - ui há diiiiiaaaas - em que elas devem comer os gelados com a testa e nem que faltasse um pedaço da tampa do aquário, elas davam com a saída para a rua. De modo que lá têm de ser, violência electrodoméstica e lá vão as bichas de levarem umas pantufadas no meio dos olhos e fazer um passeio ao jardim das tabuletas.
Resultado: janelas sujas. Se não era das caganitas que elas deixam tinha de ser dos restos mortais. Seja qual for a maneira, arranjam sempre forma de deixarem a sua impressão e expressão artística, sempre advinda das entranhas. Uma espécie de "Eu estive aqui!", expresso mesmo lá de dentro com todo o sentimento - dependendo da força que eu aplicar ao enxotar o animal, que há alturas que nem fica nada para contar a história.
Tenho de arranjar redes que electrocutam as bichezas aladas, porque isto de lavar os vidros, fazendo o exercício equivalente a um mês, durante o fim-de-semana que era quando deveria estar de papo para o ar em uma praia paradisíaca - imagem de fundo na parede do quarto - a bebericar água de um côco - aguiinha del cano na garrafa com cores tropicais - mas não, anda uma gaja a limpar janelas para depois estas bichezas virem para ali pisar tudo, a achar que é um playground moscal - é como lavar o chão da casa... "O chão está molhado, não saiam de onde estão!!" e ouve-se um "upssss...!!"
É o que eu digo, deve de lhes cheirar à distância que os vidros acabaram de ser limpinhos. Soa o rufar de tambores, alinham-se as criaturas todas em filinhas dois a dois, aos pares, de mão dada, e lá vão elas, todas airosas, prontas para roçarem os rabos nos meus vidros.