Eu ainda me admiro com certas coisas.
Isto das redes sociais, têm muito que se lhe diga e faz correr a tinta por muitos lados, muita produção de novelos de lã e ovelhinhas a passarem frio dada a quantidade de casacos tricotados e aumento de consumo de água, dada a saliva gasta resultando em garganta seca.
Não assim a maior fã destas redes, embora as tenha, meio que relutante lá criei uma conta tik tok. Com uma finalidade específica mas posso dizer que em pouco tempo que a tenho, admirei-me como se passam determinadas coisas por lá, nomeadamente os "live". Senhores a sério, eu sei que há "live" no youtube de malta a dormir e gente a assistir, devem ter mesmo muito pouco ou nadinha que fazer, olha eu ali a ver malta a dormir, possa que tédio. Mesmo com roncos pelo meio, possíveis quedas das camas, estrondos sonoros rectais ou até alguma assombração a aparecer em cena, é mesmo um desperdício de vida. Mas mesmo! Quando achei eu que não me iria surpreender com algo que, notoriamente, já bateu tanto no fundo - eu costumo dizer que atravessa o mundo e sai na China, do outro lado. Nestes casos, bate mesmo na parede do fim do mundo. Aquela que pronto, temos mesmo de fazer marcha atrás que não há passagem possível e imaginária, é que nem um portal dimensional dá para activar e passar por ali, simplesmente, zero - que não poderia encontrar nada pior. Ah pois é, e a Lei de Murphy, Peixa? Exacto. A Lei de Murphy. Andava eu a ver o feed e não é que me começo a deparar com "lives" que apelidei de "lives wtf": desde um senhor lindaço só a mandar charme às moças que entravam na "live", cumprimentando uma por uma com voz sexy e ar fresco e maravilhoso de quem esbanja sempre aquele sexappeal - uhhhh babe - mesmo quando vai à casa-de-banho, literalmente ali para ser idolatrado e massajado no ego, até outros de estarem a ver qual o ângulo melhor da sua cara e qual a luz que os favorecia mais, penteando o cabelo e tudo não falando com ninguém só ali armado em estorninho como o Narciso a olhar para a água da poça, a aqueles que parece que estão no meio da obra a fazer um "live", só porque sim - nova geração de trolhas, à falta de gajedo, fazem "live" e elas aparecem. Esperto, o tipo.
Resumindo, ao que a sociedade chega. Também vou fazer um "live" de quando estiver a limpar a casa ou a dobrar as cuecas, a ver se não arranjo um milhão de seguidores, só porque gostam da minha maneira de dobrar o cuecal.
Ao menos que fossem "lives" de coisas interessantes, como uns cantores de música popular a metro, com o seu orgão dos anos 80 e que cantam as suas covers muito mas muito mas muito mal cantadas, fazendo os ouvidos se recusarem a ouvir e a causar pesadelos e suores nocturnos a uma pessoa. Isso sim, vale a pena! Porque meia volta a alminha desafina e aquilo é qualquer coisinha de maravilhoso de passarmos arrepios-de-vergonha-alheia além de que sempre vamos curtindo um sonzinho digno de qualquer casamento ou de festa da aldeia. Só coisas a favor!
A sério que não sei como certas coisas têm audiência, seguidores e visualizações. Pelo que me parece, quanto mais ridículo ou lindão somos, não importa as figuras tristes ou o facto de abrirmos a boca e não dizermos "pão", o que importa é se estar ali a ver os outros naqueles preparos ou nos estarmos a babar, como se a aparência fosse tudo. Acho que a palavra "dignidade" saiu do dicionário de muita gente. Digo eu, assim só de surra. E o tédio ou falta de vontade de viver é tanta - ou preguiça extremamente aguda - que se dá audiência a essas coisas. Sempre ouvi dizer que há gostos para tudo e mercado para tudo, nunca pensei é que fosse tão à letra.