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Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

O meu conto de Natal.

frito e escorrido por Peixe Frito, 24.12.19

Ainda venho a tempo!! Este ano aceitei o desafio lançado pela imsilva, para escrever um conto de natal. E aqui está ele! Espero que gostem!!

 

Ela era uma rapariga normal. Pelo menos, aparentemente. Todos os anos ansiava pela época natalícia, que lhe trazia o calor e o conforto das suas memórias de criança: desde o cheiro da mãe a passar a roupa, ao odor de pinheiro nos antigos enfeites de natal, que passasse o tempo que passasse, parece que ficava parado no tempo, não abandonando as fitas desgastadas e as bolas a ficarem incolores.

Porém, naquele ano, tudo estava diferente. Ela estava diferente. Tinha vivido uns anos duros, com altos e baixos que só a vida sabe graciosamente conceder. Suspirou fundo. «Mais um ano sozinha. Já há demasiado tempo». Não se deixou envolver por aquelas mágoas antigas, réstias de um passado feliz e de momentos de tristeza à mistura. Lá meteu os pés na terra, se levantou e se foi despachar para a consoada de Natal.

A caminho da casa de família, observou a paisagem: o sol quente na face, as árvores que a viram crescer, os pássaros na sua costumeira azáfama. Entrou no pátio e sentiu o cheiro do inverno, do frio, do húmido nas folhas das azedas, nos limoeiros e o aroma das flores de nespereira. Parou por momentos. Fechou os olhos e ali ficou por breves instantes. Inspirou fundo. Lembrou-se de si própria, pequena, a correr por aquele corredor abaixo, feliz da vida, a roer azedas. Como a vida era tão simples, naquela altura. Retomou o passo. Tira as chaves para abrir a porta e entra em casa. Mesa posta com  serviço de natal que a mãe todos os anos usa religiosamente. A mesa dos doces e bolos, o pai de um lado para o outro a por a mesa enquanto a mãe está de volta dos tachos na cozinha. O resto da família sentados na sala, a falarem alegremente, com a grande árvore de natal ao canto da mesma. Linda. Com luzes a piscarem vivamente. Prendas debaixo dos seus ramos. Parou a contemplar aquilo tudo e sorriu. 

Após a azáfama do jantar, chega o momento de abrir as prendas. Ninguém gosta de fazer as crianças sofrerem à espera da meia noite. Sentam-se nos sofás e começam a distribuir as prendas, dizendo o nome em voz alta, correspondente a aquela prenda e eis que ela cai em si: Como se visse tudo em camera lenta, desde o pai no seu sofá ao resto da família a abrir prendas, papel por todo o lado, caixas de brinquedos e risota de felicidade, ela pensou para consigo: «Como me posso sentir eu só, se estou com as pessoas que amo?» e os seus olhos brilharam. O seu coração aqueceu. Naquele momento, entendeu o valor que aquelas pessoas têm para ela. Que estão sempre a seu lado nos momentos baixos e altos da vida. Riem e choram com ela. Relembrou-se do que é o significado do natal para si e para a sua família. O momento em que todos estão juntos e que não abdicam por nada.

- Tia!! - ouve ela. Estendem-lhe uma prenda. Ela sorri e agradece. Quer seja pela prenda, quer seja por ser abençoada, pela família que têm, e pelo facto de que não há prenda no mundo, que se compare à companhia daquelas pessoas que a rodeiam.

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