O meu pai.
Como não posso ver nada, hoje na blogosfera anda tudo a falar dos pais ah e tal e coisa blá blá blá, armada em invejosa, escrevi um pouco sobre o meu.
Eu adorava escrever aqui coisas coerentes, lindas e maravilhosas, em como o meu pai contribuiu (e contribui) para a formação do carácter e personalidade aqui da criatura, dando exemplos mágicos e ternurentos, que me ensinou a andar de bicicleta - #sóquenão - a nadar - #sóquenãoeither - me incentivou a ler, pintar, escrever - não, não e não. Ele não passa cartão nenhum a essas coisas - jogava comigo à "sardinha" e eu levava grandes abadas, dado que ele têm umas mãos de yeti e eu umas de ... suricata, ao pé das dele, mas como já devem ter percebido, o meu pai é tudo menos o pai tradicional. Sim, está ali sempre que preciso dele, passa-me umas grandes pérolas de sabedoria que só ele as têm e, caso não o saibam, este sentido de humor é herdado precisamente dele. Cresci com um pai dotado de um sentido de humor sarcástico, a agarrar o sentido de oportunidade como ninguém e a ser inconveniente até à quinta casa. Mas sobretudo, hilariante. Saca sempre de uns coelhos da cartola quando menos se espera.
Há pessoas que dizem memórias confortantes e fofinhas dos seus pais, que quando vêem isto ou aquilo, remete às lembranças do seu paizinho, ora porque ele foi assim ou assado, comigo é mais do género:
Em pleno almoço de família, todos a comerem descansados e o pai Adamastor partilha o movimento dos seus intestinos. Inclusive frisa que ou "tenho o rabo que parece um chapéu de um pobre" ou o mesmo como "uma couve flor". Adora largar bombas atómicas sem o efeito destrutivo físico, mas animalesco no que toca ao olfacto - desejamos MESMO perder esse sentido, se queremos sobreviver e continuarmos sem mazelas para a vida - seja onde fôr... seja à porta de casa, onde se larga e foge para dentro de fininho, ficando os vizinhos a olharem para a porta do aquário tal o estrondo e claro... quem fica à porta, fica com a fama de largar foguetes mais estridentes do que os do novo ano chinês. Das melhores dele, foi estarmos os dois na sala a ver tv, os programas da natureza, de sobrevivência, aqueles passados lá pelos alaskas ou então combates de artes marciais, e ele se largar. Mas de pantufas. Mestre como só ele sabe ser, remeteu-se ao silêncio. Ao estilo que "se eu ficar quietinho, ninguém nota que eu estou aqui" e digo-lhe eu: "Fosga-se pai... a sério?" e diz-me ele: "Que foi?? Não fui eu!! Foste mas foste tu, filha!", ora pois está claro. Estava na cara que fui eu, além de ir verificar se tinha as mãos amarelas. Cá está o sentido de oportunidade. E o clássico cheiro agradável a natureza térrea e bem estrumada a pairar no ar, a mãe Peixa lhe dizer: "Ai Adamastor... pfff que mau cheiro!!" e ele responder: "Como sabes que fui eu? Reconheces-lhe o cheiro??". No comments.
Ele é mega tranquilo e na dele. Gosta de estar descontraído e que não o moam. E o que têm a fazer, faz. Como ele costuma dizer "se não gostas do cheiro, eu abro outro cabaz" embora aplicado a temáticas olfactivas, aplica esta máxima na vida em geral. Se for preciso, no meio do hipermercado têm as fraldas da camisa de fora e vai de abrir um pouco os jeans e a meter as fraldas para dentro, ao que eu já assiti e lhe disse: "Pai, assim aqui no meio do corredor??" e ri-me. Diz-me: "Quem não quiser, que não olhe... Olha o caraças!!". A mãe Peixa relata que passa imensas vergonhaças com ele, o que não me admira, conhecendo a peça.
Assim sendo e isto é tudo a ponta de um iceberg, muito tenho a dizer sobre o meu pai. Além do humor, herdei o gosto por plantas e andar de mãos na terra, a mudar vasos, podar as bichas e plantar outras tantas. E nada paga a sua companhia, aquando vamos no meio da serra e invertemos os papéis: agora, invés de ser eu a perguntar que planta é aquela e que propriedades têm, é ele que me questiona a mim.
Fico grata por ele ser quem é, me respeitar e amar tal e qual como eu sou, com este sentido de humor, panca hippie, corte de cabelo diferente, piercings e tatuagens, mas principalmente, por me ter ensinado como fazer o molho da sapateira e o belo do frango assado no forno, que são inigualáveis.
Uma salva ao meu rico pai, que embora eu às vezes não o queira admitir, somos mais chapados um do outro do que o aconselhável.