Após uma desgastante e persuasiva pesquisa de mercado, onde algumas pessoas tiveram de fugir como se não houvesse amanhã e outras viram que não tinham outro remédio senão contribuir, na vã esperança que eu desaparecesse, cheguei à conclusão do impacto que uma bigodaça, farfalhuda a parecer um piaçaba ou enroladinho que nem um caracol de pastelaria, pode ter numa pessoa, ou nas pessoas que co-habitam com essa dita pessoa bigodal.
Não me refiro ao dito bigode e aos inúmeros devaneios que o mesmo possa causar:
- Jaquim, é preciso tirar aquela teia de aranha ali do canto, será que podes tratar disso? É que não chego lá...
- Ó Maria, é já a seguir!
Ou noutros casos:
- Ó Manel, corta-me lá esse bigode, que mais parece que ficaste com o espanador colado à cara!
Ou ainda:
- Olha olha... Que se passa na tua cara pá?
- Como assim??
- Tens aí um bicho morto!!
Ou até mesmo:
- Que rico almocinho hoje, hein?
- Então... como sabes tu que almocei eu hoje?
- Oh... Óbvio! Tens um pedaço de costeleta de vitela armazenada no bigode. E foi com batatinhas a acompanhar, sim senhor, muito bem!
Refiro-me especificamente à ausência do mesmo. O quê?? Dizem vocês. Pois bem, meus caros. Pior do que um bigode capaz de fazer de lianas para o Tarzan ou de chicote para o Indiana Jones, é mesmo estarmos habituados a ver uma pessoa de bigode, durante tempos e tempos, e depois dar-mos de caras com a mesma pessoa, mas sem bigode, e termos uma reacção estranha. Nem é o não reconhecermos a pessoa. O mal é quando nos dá um ataque de riso parvo.... Como é o meu caso.
O pai Adamastor usou bigodaça durante muitos anos. Aliás, era eu uma tenra alevim e o pai Adamastor usava a sua bigodaça preta com orgulho (hoje em dia, se a deixasse crescer, era mais a arraçar o zebra, preta com riscas brancas) até ao dia em que se lembrou de mudar de visual. Ainda hoje me lembro do que senti quando o vi, o espanto porque sempre o tinha conhecido de bigode, e a crise de riso que se sucedeu após o dito, que perdurou uns tempos. Para terem noção, ainda hoje esse momento é recordado, com umas risotas a acompanhar, tal foi o impacto que essa mudança teve no aquário.
Tão mau quanto a risota trocista, é o facto de não conseguirmos despegar os olhos da pessoa e pensar: «Possas, afinal aquela pessoa sempre tinha lábios e boca, não era só queixo.» Sim, em muitos casos, parece mesmo que o bigode têm vida própria e fala e tudo.
E há outros, que metem verdadeiramente medo. Parece que nos vão agarrar, parecem bracinhos a esticarem-se quando passamos e que vão enrolar-nos nele que nem uma aranha faz com a teia. Imagino a quantidade de laca que alguns senhores gastam, quantos arames e quiçá que outras estruturas de fixação existem por debaixo do que aparentemente é um simples bigode. Nunca se sabe.
Medo. Tenham muito medo.