Desafio Caixa dos Lápis de Cor | #7 Azul Claro
"O fim do mundo em cuecas".
Foi uma expressão que eu sempre ouvi dizer e, com a viragem do século e segundo alguns profetas, isso poderia ter acontecido. Completamente alheia ao factor de que muita gente poderia estar efectivamente de cuecas na passagem de ano, andava tudo a panicar com a entrada nos anos 2000. Até os computadores estavam a roer as teclas do teclado, dado que ficarem a "00" era novidade para todos - embora os meninos funcionem com "0" e "1", mas vá-se lá entender. Coisas de informática - Se querem que vos diga a verdade, eu acho que isso não aconteceu porque a grande maioria dos portugueses vestiu a bela da cueca azul, para dar sorte para o novo ano. Vão por mim.
Cuecas à parte e pegando na onda das festividades, onde paparoca é coisa que não costuma faltar, faz-me lembrar do belo do pamparuére. São frequentes as vezes, que a mãe Peixa impinge oferece com fervor e quase nos dá um enxerto de porrada se dizemos que não todo o amor e carinho, sobras das paparocas que ela faz para os almoços, jantares, aniversários, lanches, ceias, qualquer cenaice que sirva para fazer uma paparoca jeitosa para a malta se refastelar e encher o bandulho. Se não for ela, é o Pai Adamastor. Segundo ele, depois fica a comer ratatui daquilo a semana inteira - a mãe Peixa faz ratatui do que for... acho que até do ratatui em si ela fazia ratatui - de modo que raramente alguém sai daquele aquário sem uns tarecos recheados de comidinha da boa. Pais são pais, eu sei, mas os meus têem especial tendência a me quererem encher de comer. Há quem diga que eles devem achar que eu estou magra, há quem diga que eles devem achar que eu como mal, mas eu acho mesmo que eles me querem é engordar que nem uma porca para depois seguir para o matadouro, que eu nunca vi, mas nunca vi tamanho assédio no que toca a comer. Não querem engordar e depois engordam os outros, os espertos.
Ora, pelo menos uma vez por semana agora na altura mais fresca do ano, a mãe Peixa liga-me para eu ir buscar a divina sopa de feijão. E eu, bem mandada, lá passo no aquário para trazer uma malga... isto se o pai Adamastor não intervir:
Pai Adamastor, encontrava-se na sala, a dormitar no belo do sofá. Como por artes mágicas acorda e dá pela minha presença na cozinha. Grita à mãe Peixa:
- A filha que leve sopa!!
Pronto, ardeu a tenda Peixa. Mexe-te rápido antes que ele apareça. Eu a encher até estar atestadinho atestadinho até à goela o raio do pamparuére que alimentava uma família de seis pessoas durante uma semana, a tentar fechá-lo sem que ele babasse por fora, a tentar não o abanar muito, pois seria literalmente caldo entornado e sopinha daquela categoria, não se desperdiça nem uma gota. Na sua santa discrição e pés de lã, lá o dono do aquário aparece na cozinha:
- Filha! Só vais levar isso??
Eu olho para o pamparuére. Até estava com receio de respirar e aquilo transbordar. Abusaste, Peixa. Admite.
- Possa pai... Mas tu queres que eu deixe cá o pamparuére e leve a panela??
Calou-se. Dá mais uma voltinha na cozinha a cheirar, tal tubarão volta ao ataque:
- Olha que tens ali chicha. Leva a que quiseres!!
- Sim, pai...
- E pão? Não queres levar pão??
- Porra pai!! Mas tu queres é que eu enfarde que nem um animal, ou quê?? Caraças!!
A fazer de ofendido, vai embora para a sala. Antes de eu ir embora, sussurra para a mãe Peixa:
- Olha, ó mãe Peixa... a filha já guardou os bolinhos que fizeste?
- Já, pai...!!
A cereja no topo do bolo, foi lá ir almoçar semana passada, sobrar um hamburguer veggie e a mãe Peixa me perguntar se eu queria trazer para o trabalho, no meio de um papo-seco, para o lanche. É o que eu digo... devo ter ar de comer que nem uma esganada!
- Ó mãe... Um hamburguer no pão a meio da tarde?? Estás a confundir-me com o pai Adamastor!!
Lá ela se riu, se rendendo às evidências do ridículo da sugestão.
E devo dizer que sempre mas sempre que lá vou a casa, a mãe Peixa arremata com um "vê lá se a mãe não têm para aí nada que tu precises" ou com algum "a mãe têm uns limõeszinhos a mais, queres?", "uma frutinha?" ou uma coisa que eu adoro ouvir "o pai Adamastor foi à mercearia e trouxe aquelas bolachas húngaras que tanto gostas, daquele queijinho bom e chouriço alentejano". Não há quem resista, a sério. O que vale é que a gaja é ruim e embora as roupas encolham com as lavagens e com o sol quente da rua ao secar, não encolhem assim tanto.
E depois lá venho eu para casa, quase a precisar de um camião tir dada tanta paparoca que os meus santos pais me encafuam, para albergar os ditos pamparuéres de tampinha azul, tão característicos do aquário mor.
Neste desafio participo eu, a Concha, a A 3ª Face, a Maria Araújo, a Fátima Bento, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o José da Xã, o João-Afonso Machado e a Marquesa de Marvila.
Todas as quartas feiras e durante 12 semanas publicaremos um texto novo inspirado nas cores dos lápis da caixa que dá nome ao desafio. Acompanha-nos nos blogues de cada um ou através da tag "Desafio Caixa de lápis de Cor". Ou então, junta-te a nós ;)