Declaro aqui a oficialização da abertura da época de uso de collants.
Eita que vão começar as guerras matinais de vestir uma perna direita e a outra enviesada, tendo de tirar os collants e voltar a vestir... Abriu também a época das malhas, buracos nas meias de vidro e a época do verniz andar na mala, não vá alguma malhita se lembrar de fazer alpinismo nas minhas pernas de sereia. Menção honrosa para as meias desirmanadas e para os collants que quando precisamos deles, não os achamos ou há sempre a cor que naquela altura vai ter de desenrascar - quantas vezes não tive de vestir meia cinzenta com roupa preta, só para não passar friasca nas pernocas? Era mais fácil mudar de vestimenta, dizem vocês. Lá isso era. Pois era... Mas de manhã a cabeça está formatada para aquela farpela - e os minutinhos cronometrados para sair de casa por causa do trânsito - e têm uma ou duas opções de reserva caso algo corra mal, tal como não achar a camisa ou a saia ou o que seja, de modo que os collants normalmente são aquela peça básica que têm de dar com tudo e convenhamos, mudar um traje inteiro por causa de uns collants logo pela matina... ninguém merece.
E essas coisas acontecem porquê? Bem... eu raramente arranjo a roupa no dia anterior. Tendo o aquário com vista para a serra, o tempo é muito sui géneris, de modo que só de manhã, posso afinar os trapos do dia, quando abro a janela - e não está nevoeiro. É frequente haver desvios de última hora e andar tudo nas horas pelo aquário - cuecas a voar, peuguedo, cintos, soutien do Winnie the Pooh - comigo à procura de outro par de collants, porque rompi o novo que estava a estrear naquele dia. Sim... eu dou cabo de collants mais depressa do que a acabar um pacote de batatas fritas lisas com mel e mostarda. É sempre a dar, um ver se te avias. Que o diga a mãe Peixa, cada vez que lhe digo que mais um par foi à vida. Ao início, ela ainda fazia funeral aos animais e me questionava como que raio consigo eu fazer isso, mas com os anos percebeu que há mistérios na vida, cujas respostas nunca iremos saber. Mais depressa descobriremos o Homem das Neves ou o Monstro do Loch Ness ou a Ovelhinha Amarela.
Verdade seja dita, eu ando em guerra com collants desde miudinha - reza a lenda que eu me fartava de fazer alergia ao raio dos collants de lã e ui se me lembro de sentir picadinhas nas pernoquitas e me esgatanhar toda - porém admito que toda a confusão gerada pelo simples vestir de collants, de quase ter de vestir luvas de seda e lhes pedir "s.f.f não te rompas meu amor que EU 'TOU CHEIA DE PRESSA E A PERDER A PACIÊNCIA" acaba por compensar. É agradável poder vestir vestidos ou saias nos tempos mais frescos, ter as perninhas quentinhas e não correr tantos riscos de mostrar o cuecal ao povo, cada vez que uma pessoa se agacha ou o vento se lembra de ventar.
É isto que me dá força todos os dias, frente às adversidades e desafios de usar collants, maiores do que os do "Nunca Digas Banzai!" ou "Jogos sem Fronteiras".
Qual lutar contra zombies e o holocausto, ser o fim do mundo em cuecas ou até catar piolho na careca... Vestir uns collants têm arte e não é para todo o povo.