Inesperadamente, parti um dente a comer uma fatia de pão - acho que o dente estava à espera que eu comesse a coisa mais fofa e mole, para ter uma desculpa de se partir. Não foi a roer maçã, ossos, pedras da calçada. Pão. Pão molinho e fofinho.
- Ah não acredito!! Parti um dente!!
Silêncio. Cú Rabinho pequeno sentada a meu lado a lanchar comigo, depois de me inundar de perguntas na altura mais apropriada - quando eu ainda estava a perceber e a encaixar o recente acontecimento - cala-se. Observa-me longamente em silêncio e depois de dar uma trinca na sua sandocha, diz-me:
- Tia Peixa, não fiques triste. Sabes, eu também tenho muitos dentes com buracos!!
Olhei para ela. Honestamente não sabia se deveria de rir - faltam-lhe os dois dentes da frente, idade tramada para a autoestima mas ela está-se bem nas tintas, sorri desalmadamente a exibir o faqueiro incompleto - com o comentário ou se deveria de chorar, pois na sua inocência de me querer confortar, não me deu o melhor dos exemplos e fez-me questionar seriamente que raio se passa com aquela cremalheira.
Uma coisa é certa: Não há nada como ver as coisas pelos olhos de uma criança. Tudo se resolve e fica bem. Até lá, vai-se comendo um pão com manteiga, acompanhado com cevada.