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Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

O meu pai.

frito e escorrido por Peixe Frito, 19.03.21

Como não posso ver nada, hoje na blogosfera anda tudo a falar dos pais ah e tal e coisa blá blá blá, armada em invejosa, escrevi um pouco sobre o meu.

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Eu adorava escrever aqui coisas coerentes, lindas e maravilhosas, em como o meu pai contribuiu (e contribui) para a formação do carácter e personalidade aqui da criatura, dando exemplos mágicos e ternurentos, que me ensinou a andar de bicicleta - #sóquenão - a nadar - #sóquenãoeither - me incentivou a ler, pintar, escrever - não, não e não. Ele não passa cartão nenhum a essas coisas - jogava comigo à "sardinha" e eu levava grandes abadas, dado que ele têm umas mãos de yeti e eu umas de ... suricata, ao pé das dele, mas como já devem ter percebido, o meu pai é tudo menos o pai tradicional. Sim, está ali sempre que preciso dele, passa-me umas grandes pérolas de sabedoria que só ele as têm e, caso não o saibam, este sentido de humor é herdado precisamente dele. Cresci com um pai dotado de um sentido de humor sarcástico, a agarrar o sentido de oportunidade como ninguém e a ser inconveniente até à quinta casa. Mas sobretudo, hilariante. Saca sempre de uns coelhos da cartola quando menos se espera.

Há pessoas que dizem memórias confortantes e fofinhas dos seus pais, que quando vêem isto ou aquilo, remete às lembranças do seu paizinho, ora porque ele foi assim ou assado, comigo é mais do género:

Em pleno almoço de família, todos a comerem descansados e o pai Adamastor partilha o movimento dos seus intestinos. Inclusive frisa que ou "tenho o rabo que parece um chapéu de um pobre" ou o mesmo como "uma couve flor". Adora largar bombas atómicas sem o efeito destrutivo físico, mas animalesco no que toca ao olfacto - desejamos MESMO perder esse sentido, se queremos sobreviver e continuarmos sem mazelas para a vida - seja onde fôr... seja à porta de casa, onde se larga e foge para dentro de fininho, ficando os vizinhos a olharem para a porta do aquário tal o estrondo e claro... quem fica à porta, fica com a fama de largar foguetes mais estridentes do que os do novo ano chinês. Das melhores dele, foi estarmos os dois na sala a ver tv, os programas da natureza, de sobrevivência, aqueles passados lá pelos alaskas ou então combates de artes marciais, e ele se largar. Mas de pantufas. Mestre como só ele sabe ser, remeteu-se ao silêncio. Ao estilo que "se eu ficar quietinho, ninguém nota que eu estou aqui" e digo-lhe eu: "Fosga-se pai... a sério?" e diz-me ele: "Que foi?? Não fui eu!! Foste mas foste tu, filha!", ora pois está claro. Estava na cara que fui eu, além de ir verificar se tinha as mãos amarelas. Cá está o sentido de oportunidade. E o clássico cheiro agradável a natureza térrea e bem estrumada a pairar no ar, a mãe Peixa lhe dizer: "Ai Adamastor... pfff que mau cheiro!!" e ele responder: "Como sabes que fui eu? Reconheces-lhe o cheiro??". No comments.

Ele é mega tranquilo e na dele. Gosta de estar descontraído e que não o moam. E o que têm a fazer, faz. Como ele costuma dizer "se não gostas do cheiro, eu abro outro cabaz" embora aplicado a temáticas olfactivas, aplica esta máxima na vida em geral. Se for preciso, no meio do hipermercado têm as fraldas da camisa de fora e vai de abrir um pouco os jeans e a meter as fraldas para dentro, ao que eu já assiti e lhe disse: "Pai, assim aqui no meio do corredor??" e ri-me. Diz-me: "Quem não quiser, que não olhe... Olha o caraças!!". A mãe Peixa relata que passa imensas vergonhaças com ele, o que não me admira, conhecendo a peça.

Assim sendo e isto é tudo a ponta de um iceberg, muito tenho a dizer sobre o meu pai. Além do humor, herdei o gosto por plantas e andar de mãos na terra, a mudar vasos, podar as bichas e plantar outras tantas. E nada paga a sua companhia, aquando vamos no meio da serra e invertemos os papéis: agora, invés de ser eu a perguntar que planta é aquela e que propriedades têm, é ele que me questiona a mim.

Fico grata por ele ser quem é, me respeitar e amar tal e qual como eu sou, com este sentido de humor, panca hippie, corte de cabelo diferente, piercings e tatuagens, mas principalmente, por me ter ensinado como fazer o molho da sapateira e o belo do frango assado no forno, que são inigualáveis.

Uma salva ao meu rico pai, que embora eu às vezes não o queira admitir, somos mais chapados um do outro do que o aconselhável.

O meu pai.

frito e escorrido por Peixe Frito, 19.03.18

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Não tenho por hábito escrever por aí sobre os temas em voga, nomeadamente neste caso específico, ser Dia do Pai. Ora, como eu fui educada, é um dia como outro qualquer. Na verdade, segundo os meus pais, dia do pai ou da mãe é todos os dias - tirando o dia da criança... esse sim a prendinha tinha de ser garantida para os piolhos, não havia cá merdas coisas.

Só escrevo este post, porque eu realmente sou como sou, graças ao Pai Adamastor. Não, não me vou por aqui com agradecimentos e essas mariquices, com histórias de emocionar as pedras da calçada. Não é o meu estilo. Ainda mais porque ele nem vai ler, por isso qual o intuito de escrever algo a agradecer a alguém ou o que for, quando a pessoa nunca vai ver ou ler aquilo? Não iria passar o mínimo cartão. E além disso, eu sou mais de demonstrar agradecimento e carinho, de outras maneiras, quer seja a ir à quintinha comprar legumes, encher-me de lama até aos joelhos e lhe trazer beterrabas que ele tanto gosta. Ou de lhe levar para o aquário mor, frascos de doce ou compota, que eu fiz e que sei que ele adora comer aquilo quase à colher racionadamente barrado na sandocha.

Dito isto e aqui vai a razão de escrever este post, é que é mesmo verdade, sou como sou graças ao pai Adamastor. Foi pelo modo como ele sempre têm sido para mim, que eu cresci meio arrapazada, com um mau génio característico do cardume, sentido de humor sarcástico apurado e expressões que não lembram nem aos diabos, fazendo parecer que temos um dialecto próprio entre as criaturas do cardume.

Sejam as aventuras inspiradamente cómicas que ele sempre partilhou com a família, com a sua maneira sui generis de contar, nos fazendo rir dos arrepios-de-vergonha-alheia que ele nos transmite com as figurinhas que fez/faz, na maior das descontracções como se fosse tudo o mais natural possível, encorajando-nos a todos, a sermos nós próprios, não importando o que é que os outros pensam ou deixam de pensar.

É com carinho que recordo momentos como ele largar uma silenciosa nada silenciosa na sala, alguém dizer:

- hey pai... que tufoooooo.

ao que ele respondeu: Eu?? Foste mas foste tu, filha Peixa. 

- Pois está claro, está na cara que fui eu. Tenho desses hábitos em público.

E ele se ir embora a rir tipo Mutley.

Ou situações, também envolvendo gases - é mera coincidência, mas histórias de gases é coisa que não falta na família - como irmos de viagem em férias e termos chegado a uma barragem quase deserta, lá para o Norte, e mal parámos, o Pai Adamastor sai disparado do meu Peixmóbil (mal me deixou parar o carro) e ouve-se uma vuvuzela na rua. Além da coisa gasosa que ele expeliu, aquilo fez um mega eco com a barragem. Resultado: O Pai Adamastor com ar aliviado e a dizer: "Ahhhh já não me estava a aguentar mais (felizmente foi na rua, senão desfaleciamos todos dentro do carro e não estava aqui hoje a contar esta história) que granda bujarda!!" e estava um casalinho a namorar a olhar a paisagem, a rapariga fugiu logo dali enojada a olhar para o Pai Adamastor e o rapaz a rir-se todo divertido com aquilo.

Como as histórias acima, há "n" mais durante a minha vida.

O belo hábito que temos de contar/reviver esses episódios em família, nos nossos almoços ou jantares, não tendo a mínima vergonha de partilhar as coisas tal como elas foram, por muito que muita gente não tivesse a mínima coragem de as partilhar, tal fossem as figurinhas.

Não, eu não tenho o hábito de largar ambientadores gasosos de cebola biológicos onde ando, mas não há a mínima dúvida que falo e me expresso muito como o Pai Adamastor. É mesmo caso de dizer que quem sai aos seus não é de Genébra.

Por isso, se alguém têm alguma coisa a agradecer ao meu paizão, são mesmo os leitores aqui da fritadeira. Se não fosse o modo como fui educada, croma ao mais alto nível, sem vergonha de contar as minhas peripécias por muito que algumas pareçam saídas de um filme ou de partilhar os meus pensamentos mega geniais, aqui a fritadeira não existia nos moldes em que a conhecemos. Na sua parvalheira sublime e absoluta.

Dito isto, grande pai Adamastor