Estava eu a lambuzar-me a comer cerejas, toda contente, que nem um passarito a esponjar-se numa poça de água, num dia de calor. O pai Adamastor olha para mim, e após breves momentos de me observar a traçar as cerejas a alta velocidade, diz-me, com o seu ar sábio e voz grave:
- Peixa filha... Nunca abras as cerejas!
- Hein?
- Nunca abras as cerejas filha, senao já não as comes.
- Oh por favor, não me venhas com a conversa dos carneiros.
- Sim sim, algumas estão cheias de carneiros.
- Bah pai, vê-se por fora que estão bichadas.
- Ai é que te enganas filha... Há umas que o bicho vêm de dentro.
Silêncio. Comi uma cereja muito timidamente a pensar no que o pai Adamastor tinha acabado de me dizer. Perante a minha cara de «Fosga-se, estava a comer tão bem sossegada...», o pai Adamastor continuou:
- Ah mas eu não percebo o problema das pessoas com os carneiros da fruta. Aquilo é que é saudável, sem químicos nem nada. Só comem fruta! Mais saudável do que aquilo, é difícil!
Raios partam, parecia mesmo eu, quer no sentido de oportunidade a dizer as coisas nas melhores alturas, quer no discurso.
Lá diz o outro: Quem sai aos seus, não é de Genebra.
Ah...! E continuei a comer cerejas. Que se lixem os carneiros.