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Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Deus me dê paciência e um paninho para a embrulhar.

frito e escorrido por Peixe Frito, 13.10.23

Não necessariamente a mim, mas a quem me atura. Ora imaginem só, receber uma prenda advinda do cardume, em que a Rabinho Pequeno foi a mensageira, acompanhada pela Rabinho Gordinho, assim na dela a observar e a dar apoio moral à outra criatura.

- De certeza que vais gostar, tia Peixa!! - começa por dizer a Rabinho Pequeno.

Peguei no saco e comecei a adivinhar:

- É uma bomba...? Não posso abanar muito? - e encosto o saco ao ouvido.

- Não! - diz a Rabinho Pequeno.  Rabinho Gordinho sempre a observar, encostada à ombreira da porta.

- Hum... Um unicórnio??

- Nãoo!

- Um gato? Cão? Piriquito?

- Nãaaaooooooo!

Silêncio.

- É... (*de repente, interrompida por  Rabinho Gordinho*)

- É uma mala!

Pronto. As crianças hoje em dia pá... dão cabo do suspense todo. E eu da paciência delas.

Era mesmo aquilo que eu queria ouvir, dada a situação em que nos encontrávamos.

frito e escorrido por Peixe Frito, 04.07.22

A abraçar a Rabinho pequeno, como cumprimento. Assim daqueles abracinhos apertados e diz ela, ainda agarrada a mim, ao meu ouvido:

- Sabes tia Peixa... Tenho piolhos.

- Ainda bem que me estás a dizer isso enquanto te estou a abraçar.

Momentos maravilhosos que eu vivo.

Isto era maz'era combinação já magicada com antecedência.

frito e escorrido por Peixe Frito, 22.04.22

Há hábitos que não se perdem e um deles, é dizer a alguém da família de que aquele animal que está a dar na tv, é ele. E sem critério, um animal qualquer completamente aleatório. Felizmente, todos têem sentido de humor e ninguém fica ofendido, pois a ideia é essa, brincar e não andar a chamar nomes às pessoas de modo indirecto. Ora, a ver um filme de desenhos animados, digo eu à Rabinho Pequeno:

- Olha, aquele ali és tu. E aquele o pai, aquele a mãe, aquele o gato, aquele o piriquito.

E aparece um camaleão com olho de vidro, um olho virado para a China e outro para a América. Diz logo ela:

- E aquele és tu, tia Peixa!!

Fosga-se, com tantos animais foi logo escolher aquele mais raimoso.

- Sim, então não sou? Não vês que é a minha vestimenta de ir à praia??

- Vocês têem a mesma cor de sombra nos olhos - diz ela a rir.

Um facto. Eu e o camaleão tínhamos a mesma cor de sombra.

Mais à frente, aparece novamente o camaleão em cena, desta vez em um bruto descapotável com música alta e diz logo ela:

- Olha tia Peixa, olha!! Olha tu novamente!!

- De facto, Rabinho Pequeno, sou mesmo eu. Ora, eu tenho essa música no carro e tudo! - tenho mesmo.

E não é que o raio do camaleão estava a ouvir metal no carro? Se havia dúvidas que eu estava a ser caracterizada pelo camaleão, ali ficou tudo em pratos limpos. Duas metades da mesma laranja. Gémeas separadas à nascença. Uma humana e outra... animada. Será ela o meu animal totem? Fica a questão no ar.

Qual a probabilidade? Mas qual MESMO? Pois é, é como é. Começo a achar que o universo está sempre à espreita para sacar um coelho da cartola na minha vida, mesmo nas coisas mais improváveis. O menino podia ir para aqueles shows de comédia de improviso, que se safava tranquilamente...! E olhem que aquele dia até estava a correr bem e pacificamente. Decididamente, não tenho um dia de folga. Até já com desenhos animados... Ninguém merece!

Não sabia se deveria de rir ou chorar de solidariedade.

frito e escorrido por Peixe Frito, 10.02.22

Inesperadamente, parti um dente a comer uma fatia de pão - acho que o dente estava à espera que eu comesse a coisa mais fofa e mole, para ter uma desculpa de se partir. Não foi a roer maçã, ossos, pedras da calçada. Pão. Pão molinho e fofinho.

- Ah não acredito!! Parti um dente!!

Silêncio. Rabinho pequeno sentada a meu lado a lanchar comigo, depois de me inundar de perguntas na altura mais apropriada - quando eu ainda estava a perceber e a encaixar o recente acontecimento - cala-se. Observa-me longamente em silêncio e depois de dar uma trinca na sua sandocha, diz-me:

- Tia Peixa, não fiques triste. Sabes, eu também tenho muitos dentes com buracos!!

Olhei para ela. Honestamente não sabia se deveria de rir - faltam-lhe os dois dentes da frente, idade tramada para a autoestima mas ela está-se bem nas tintas, sorri desalmadamente a exibir o faqueiro incompleto - com o comentário ou se deveria de chorar, pois na sua inocência de me querer confortar, não me deu o melhor dos exemplos e fez-me questionar seriamente que raio se passa com aquela cremalheira.

Uma coisa é certa: Não há nada como ver as coisas pelos olhos de uma criança. Tudo se resolve e fica bem. Até lá, vai-se comendo um pão com manteiga, acompanhado com cevada.

As caras de enjoada cada vez que me olhava, foi a cereja no topo do bolo.

frito e escorrido por Peixe Frito, 07.12.21

A observar-me profundamente e eu a aguardar o que é que iria sair daquela cabecinha:

- Tia Peixaaaa... O teu cabelo é esquisito.

- Então porquê?

- Porque tens duas cores no cabelo! - ar de desdém - Em cima é escuro e depois abaixo, claro!

Como explicar a uma criança o que é um degradé e que raio de pintura tenho eu no cabelo, com aquele nome todo pomposo que só iria fazer com que ela me olhasse ainda mais de esguelha?

- É como ele está pintado: em cima louro escuro, que é a cor do cabelo da tia. Nas pontas, mais claro, que é pintado.

Torcer de nariz.

- Ai, é estranhoooooooooo.

E pronto. O que me vale é a honestidade. Aqui está o meu lembrete de que tenho de ir à cabeleireira.

Mas a maior moral, vêm de quem está sempre com o cabelo com ar de quem acordou há 5 segundos e andou a lutar ao pau com os ursos, não vendo água há umas semanas e já tendo criaturas pequenas albergadas no interior. Porém... o meu cabelo é que é esquisito! 

Gabo-lhe a coragem.

frito e escorrido por Peixe Frito, 15.11.21

A observar a rabinho pequeno, com um cabelo de bradar aos céus, toda esgadelhada, até o Einstein estava lambidinho pelas vacas, ao lado dela:

- Olha lá... mas tu hoje penteaste-te?

A sorrir para mim: Não, tia Peixa.

 Então...?

- Não tive tempo de me pentear, sabes!!!

A sério, gabo-lhe a coragem de sair assim à rua. O Beetlejuice iria ficar verde de inveja daqueles preparos cabelísticos. O quanto não vale ser criança, ser descontraída e o que lhe importa é se sentir bem. Já eu... metia um chapéu ou assim. É que com a sorte que tenho, saía assim à rua e ia encontar todo o maranhal e mais algum. Mesmo aqueles que não via há anos e que achava que tinham emigrado para outro planeta - e tinham, mas naquele dia estavam no mesmo sítio que eu, porque voltaram de visita apenas por breves minutos e eu ainda os apanhei antes de partirem - Típico, quando estamos no nosso melhor. Por isso, prefiro não arriscar. Tenho uma reputação a manter. Embora com ar de penteado à lama, faz parte do seu charme natural, não preciso de forçar nada. Simplesmente, aprendi a aceitar. A idade faz isto, torna-nos mais sábios - ou como diz o outro: se não os consegues vencer, junta-te a eles - e fazer com que evitemos espelhos ou superfícies espelhadas, para não nos dar um fanico.

No fundo, não está mal dizido. Até têm razão.

frito e escorrido por Peixe Frito, 05.11.21

Eu e a Rabinho Pequeno, com ela a ver todas as cores das canetas, pois decidiu ir fazer um desenho:

- Olha tia Peixa, já viste? Quatro castanhos!!

- Pois é! Diz-me lá, qual desses castanhos é o castanho que tu achas que é a cor da mousse de chocolate?

Observa... e escolhe um: Este!

- Sim... Muito bem. E da mousse de caramelo?

- Hummm... este!

- Muito bem!

- Sabes tia Peixa... estas cores também podem ser todas cores de cócó!! - diz-me ela a mostrar-me as canetas todas na mão e a sorrir-me.

- Pois... de facto tens razão.

Nunca se sabe que coelho vai sair daquela cartola. Mais um bocadinho, a falar pelos cotovelos, diz-me que no outro dia teve doente, porque o céu lhe fez mal à cabeça. Está certo. Se calhar foi o tom de azul ou uma questão de nuvens, quem sabe.

Sempre ouvi dizer que quem sai aos seus, não é de Genebra. E aqui está a prova disso.

É aquele doce condão que só a ingenuidade confere.

frito e escorrido por Peixe Frito, 06.09.21

Na família, não temos propriamente problema em nos vestirmos e despirmos ao pé uns dos outros e então, como tal, o criancedo está habituado a isso e não há pudores. Dito isto, a rifa de momentos embaraçosos, tinha de me calhar a mim mais uma vez:

Estava eu a vestir-me para ir treinar, na companhia da Rabinho Pequeno. Ela esparramada na cama a observar-me.

- Ó tia Peixa, quando eu crescer vou ter maminhas grandes?

- Er... Grandes grandes não sei, mas vais ter as maminhas maiores, sim.

- E quando vai ser?? Quando eu for adolescente??

- Sim, mais ou menos por aí.

- Adolescente quê, doze anos??

- ... Talvez sim.

- E elas vão ser assim, como as tuas?? - e faz assim um círculo no ar com o dedo, em volta do meu peito.

- Ah isso... Não sei como vão ser!

- Mas tia Peixa...!

- Olha, vai lá brincar vai!!

Ó senhora. A curiosidade é típica e natural das crianças mas se querem que vos diga, eu fico mais embaraçada de falar de determinadas coisas do que propriamente as crianças.

Lá dizia o outro: "Adoro (...) O riso das crianças dos outros" e há dias em que compreendo o porquê.

frito e escorrido por Peixe Frito, 14.01.21

Isto de se conviver, lidar e educar crianças, têm muito que se lhe diga. Começando pela matina, que quando acordam com a telha e não contentes com o seu próprio descontentamento, decidem polvilhar a vida de todos que os circundam, com o mau génio e mau feitio. Uma simples pergunta de: "Que queres comer para o pequeno almoço", por muito que seja dita e proferida com todo o amor, paciência e carinho maior do que o da Madre Teresa de Calcutá, serve apenas de rastilho para uma explosão de tortice matinal com um "Não quero comer" virado do avesso. E é assim que se começa bem um dia.

Nem abordando a temática da vestimenta das criaturas, que há dias que à tarde, nem se devia era sair à noite, estão especialmente picuinhas com a forma como se vão apresentar ao seu social... nem que seja no infantário. Não importa. É social, é social. Fazem um pé de vento que se não é do cú é das calças, se não é das mangas, é do padrão. Em jeito de manter a paciência digna de um budista, há de facto dias ou momentos em que se dá rédea aos bichos do mato. E em que isso resulta? Meias com riscas, ténis folclóricos, saias às bolinhas, camisolas aos unicórnios e, não satisfeitos com a árvore de natal ambulante, uma bandolete com orelhas de gato a fazer pandam com as asas de borboleta. True story. Não stressem, que efectivamente este relato de um amigo de um amigo meu, não se realizou numa ida para a escola, mas ao fim-de-semana. "Ahhh Peixa, então menos mal! Foram só aos avós e voltaram para casa...!" Pois... #sóquenão. Efectivamente a vida dá muitas voltas e nesse dia, não foi excepção. As criaturas tiveram de ir às compras e sim, o espécime mais jovem foi assim pavonear-se para o centro comercial. O que vale é que vergonha não habita na alma das criaturas desta família e, como são todos dados a que as crianças também têem direito a dar asas à criatividade, tudo correu bem - mesmo com os olhares e risos de terceiros, ao verem o animal semi recente, a andar como se fosse dona do pedaço, exibindo uma panóplia de cores digna da carta de pantones e padrões, que fazem concorrência ao tapetes de patchwork.

Mas o que realmente testa a minha paciência, é o sistema de segurança integrado que as crianças têem: ralhamos, amuam, pegamos pela mão e eles fazem corpo mole, acabando por serem arrastados pelo chão. Paciente como sou, ali ficam e eu lá vou à minha vida. É uma medida eficaz de inserção de código de desbloqueio desse sistema de bloqueio infantil, pois em fracção de segundos, já se encontram à minha beira, de trombas é certo, sem falar comigo, em completo litígio. O que vale é que tanto lhes bate como some com a mesma velocidade.

É maravilhoso termos crianças na nossa vida, não é tudo complicações e chatices, mas dava um jeitaço um botão de "pausa" ou "stop", naquelas alturas em que acordaram para nos torrar o que resta da marmita. É que até os macacos-do-sótão se benzem! Deus nos valha.

Conseguem ser uns verdadeiros pica miolos.

frito e escorrido por Peixe Frito, 16.07.20

Está uma pessoa em um momento de relax, quando de repente...

- Ó pai! De onde é que vêm toda esta água do oceano?

Ainda consegue ser mais simpática, do que a pergunta de como é que o pai colocou a mana na barriga da mãe.