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Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Ó da guarda, peixe frito!

Vai com arrozinho de tomate?

Era mesmo aquilo que eu queria ouvir, dada a situação em que nos encontrávamos.

frito e escorrido por Peixe Frito, 04.07.22

A abraçar a Rabinho pequeno, como cumprimento. Assim daqueles abracinhos apertados e diz ela, ainda agarrada a mim, ao meu ouvido:

- Sabes tia Peixa... Tenho piolhos.

- Ainda bem que me estás a dizer isso enquanto te estou a abraçar.

Momentos maravilhosos que eu vivo.

Isto era maz'era combinação já magicada com antecedência.

frito e escorrido por Peixe Frito, 22.04.22

Há hábitos que não se perdem e um deles, é dizer a alguém da família de que aquele animal que está a dar na tv, é ele. E sem critério, um animal qualquer completamente aleatório. Felizmente, todos têem sentido de humor e ninguém fica ofendido, pois a ideia é essa, brincar e não andar a chamar nomes às pessoas de modo indirecto. Ora, a ver um filme de desenhos animados, digo eu à Rabinho Pequeno:

- Olha, aquele ali és tu. E aquele o pai, aquele a mãe, aquele o gato, aquele o piriquito.

E aparece um camaleão com olho de vidro, um olho virado para a China e outro para a América. Diz logo ela:

- E aquele és tu, tia Peixa!!

Fosga-se, com tantos animais foi logo escolher aquele mais raimoso.

- Sim, então não sou? Não vês que é a minha vestimenta de ir à praia??

- Vocês têem a mesma cor de sombra nos olhos - diz ela a rir.

Um facto. Eu e o camaleão tínhamos a mesma cor de sombra.

Mais à frente, aparece novamente o camaleão em cena, desta vez em um bruto descapotável com música alta e diz logo ela:

- Olha tia Peixa, olha!! Olha tu novamente!!

- De facto, Rabinho Pequeno, sou mesmo eu. Ora, eu tenho essa música no carro e tudo! - tenho mesmo.

E não é que o raio do camaleão estava a ouvir metal no carro? Se havia dúvidas que eu estava a ser caracterizada pelo camaleão, ali ficou tudo em pratos limpos. Duas metades da mesma laranja. Gémeas separadas à nascença. Uma humana e outra... animada. Será ela o meu animal totem? Fica a questão no ar.

Qual a probabilidade? Mas qual MESMO? Pois é, é como é. Começo a achar que o universo está sempre à espreita para sacar um coelho da cartola na minha vida, mesmo nas coisas mais improváveis. O menino podia ir para aqueles shows de comédia de improviso, que se safava tranquilamente...! E olhem que aquele dia até estava a correr bem e pacificamente. Decididamente, não tenho um dia de folga. Até já com desenhos animados... Ninguém merece!

Não sabia se deveria de rir ou chorar de solidariedade.

frito e escorrido por Peixe Frito, 10.02.22

Inesperadamente, parti um dente a comer uma fatia de pão - acho que o dente estava à espera que eu comesse a coisa mais fofa e mole, para ter uma desculpa de se partir. Não foi a roer maçã, ossos, pedras da calçada. Pão. Pão molinho e fofinho.

- Ah não acredito!! Parti um dente!!

Silêncio. Rabinho pequeno sentada a meu lado a lanchar comigo, depois de me inundar de perguntas na altura mais apropriada - quando eu ainda estava a perceber e a encaixar o recente acontecimento - cala-se. Observa-me longamente em silêncio e depois de dar uma trinca na sua sandocha, diz-me:

- Tia Peixa, não fiques triste. Sabes, eu também tenho muitos dentes com buracos!!

Olhei para ela. Honestamente não sabia se deveria de rir - faltam-lhe os dois dentes da frente, idade tramada para a autoestima mas ela está-se bem nas tintas, sorri desalmadamente a exibir o faqueiro incompleto - com o comentário ou se deveria de chorar, pois na sua inocência de me querer confortar, não me deu o melhor dos exemplos e fez-me questionar seriamente que raio se passa com aquela cremalheira.

Uma coisa é certa: Não há nada como ver as coisas pelos olhos de uma criança. Tudo se resolve e fica bem. Até lá, vai-se comendo um pão com manteiga, acompanhado com cevada.

As caras de enjoada cada vez que me olhava, foi a cereja no topo do bolo.

frito e escorrido por Peixe Frito, 07.12.21

A observar-me profundamente e eu a aguardar o que é que iria sair daquela cabecinha:

- Tia Peixaaaa... O teu cabelo é esquisito.

- Então porquê?

- Porque tens duas cores no cabelo! - ar de desdém - Em cima é escuro e depois abaixo, claro!

Como explicar a uma criança o que é um degradé e que raio de pintura tenho eu no cabelo, com aquele nome todo pomposo que só iria fazer com que ela me olhasse ainda mais de esguelha?

- É como ele está pintado: em cima louro escuro, que é a cor do cabelo da tia. Nas pontas, mais claro, que é pintado.

Torcer de nariz.

- Ai, é estranhoooooooooo.

E pronto. O que me vale é a honestidade. Aqui está o meu lembrete de que tenho de ir à cabeleireira.

Mas a maior moral, vêm de quem está sempre com o cabelo com ar de quem acordou há 5 segundos e andou a lutar ao pau com os ursos, não vendo água há umas semanas e já tendo criaturas pequenas albergadas no interior. Porém... o meu cabelo é que é esquisito! 

Gabo-lhe a coragem.

frito e escorrido por Peixe Frito, 15.11.21

A observar a rabinho pequeno, com um cabelo de bradar aos céus, toda esgadelhada, até o Einstein estava lambidinho pelas vacas, ao lado dela:

- Olha lá... mas tu hoje penteaste-te?

A sorrir para mim: Não, tia Peixa.

 Então...?

- Não tive tempo de me pentear, sabes!!!

A sério, gabo-lhe a coragem de sair assim à rua. O Beetlejuice iria ficar verde de inveja daqueles preparos cabelísticos. O quanto não vale ser criança, ser descontraída e o que lhe importa é se sentir bem. Já eu... metia um chapéu ou assim. É que com a sorte que tenho, saía assim à rua e ia encontar todo o maranhal e mais algum. Mesmo aqueles que não via há anos e que achava que tinham emigrado para outro planeta - e tinham, mas naquele dia estavam no mesmo sítio que eu, porque voltaram de visita apenas por breves minutos e eu ainda os apanhei antes de partirem - Típico, quando estamos no nosso melhor. Por isso, prefiro não arriscar. Tenho uma reputação a manter. Embora com ar de penteado à lama, faz parte do seu charme natural, não preciso de forçar nada. Simplesmente, aprendi a aceitar. A idade faz isto, torna-nos mais sábios - ou como diz o outro: se não os consegues vencer, junta-te a eles - e fazer com que evitemos espelhos ou superfícies espelhadas, para não nos dar um fanico.

No fundo, não está mal dizido. Até têm razão.

frito e escorrido por Peixe Frito, 05.11.21

Eu e a Rabinho Pequeno, com ela a ver todas as cores das canetas, pois decidiu ir fazer um desenho:

- Olha tia Peixa, já viste? Quatro castanhos!!

- Pois é! Diz-me lá, qual desses castanhos é o castanho que tu achas que é a cor da mousse de chocolate?

Observa... e escolhe um: Este!

- Sim... Muito bem. E da mousse de caramelo?

- Hummm... este!

- Muito bem!

- Sabes tia Peixa... estas cores também podem ser todas cores de cócó!! - diz-me ela a mostrar-me as canetas todas na mão e a sorrir-me.

- Pois... de facto tens razão.

Nunca se sabe que coelho vai sair daquela cartola. Mais um bocadinho, a falar pelos cotovelos, diz-me que no outro dia teve doente, porque o céu lhe fez mal à cabeça. Está certo. Se calhar foi o tom de azul ou uma questão de nuvens, quem sabe.

Sempre ouvi dizer que quem sai aos seus, não é de Genebra. E aqui está a prova disso.

É aquele doce condão que só a ingenuidade confere.

frito e escorrido por Peixe Frito, 06.09.21

Na família, não temos propriamente problema em nos vestirmos e despirmos ao pé uns dos outros e então, como tal, o criancedo está habituado a isso e não há pudores. Dito isto, a rifa de momentos embaraçosos, tinha de me calhar a mim mais uma vez:

Estava eu a vestir-me para ir treinar, na companhia da Rabinho Pequeno. Ela esparramada na cama a observar-me.

- Ó tia Peixa, quando eu crescer vou ter maminhas grandes?

- Er... Grandes grandes não sei, mas vais ter as maminhas maiores, sim.

- E quando vai ser?? Quando eu for adolescente??

- Sim, mais ou menos por aí.

- Adolescente quê, doze anos??

- ... Talvez sim.

- E elas vão ser assim, como as tuas?? - e faz assim um círculo no ar com o dedo, em volta do meu peito.

- Ah isso... Não sei como vão ser!

- Mas tia Peixa...!

- Olha, vai lá brincar vai!!

Ó senhora. A curiosidade é típica e natural das crianças mas se querem que vos diga, eu fico mais embaraçada de falar de determinadas coisas do que propriamente as crianças.

Lá dizia o outro: "Adoro (...) O riso das crianças dos outros" e há dias em que compreendo o porquê.

frito e escorrido por Peixe Frito, 14.01.21

Isto de se conviver, lidar e educar crianças, têm muito que se lhe diga. Começando pela matina, que quando acordam com a telha e não contentes com o seu próprio descontentamento, decidem polvilhar a vida de todos que os circundam, com o mau génio e mau feitio. Uma simples pergunta de: "Que queres comer para o pequeno almoço", por muito que seja dita e proferida com todo o amor, paciência e carinho maior do que o da Madre Teresa de Calcutá, serve apenas de rastilho para uma explosão de tortice matinal com um "Não quero comer" virado do avesso. E é assim que se começa bem um dia.

Nem abordando a temática da vestimenta das criaturas, que há dias que à tarde, nem se devia era sair à noite, estão especialmente picuinhas com a forma como se vão apresentar ao seu social... nem que seja no infantário. Não importa. É social, é social. Fazem um pé de vento que se não é do cú é das calças, se não é das mangas, é do padrão. Em jeito de manter a paciência digna de um budista, há de facto dias ou momentos em que se dá rédea aos bichos do mato. E em que isso resulta? Meias com riscas, ténis folclóricos, saias às bolinhas, camisolas aos unicórnios e, não satisfeitos com a árvore de natal ambulante, uma bandolete com orelhas de gato a fazer pandam com as asas de borboleta. True story. Não stressem, que efectivamente este relato de um amigo de um amigo meu, não se realizou numa ida para a escola, mas ao fim-de-semana. "Ahhh Peixa, então menos mal! Foram só aos avós e voltaram para casa...!" Pois... #sóquenão. Efectivamente a vida dá muitas voltas e nesse dia, não foi excepção. As criaturas tiveram de ir às compras e sim, o espécime mais jovem foi assim pavonear-se para o centro comercial. O que vale é que vergonha não habita na alma das criaturas desta família e, como são todos dados a que as crianças também têem direito a dar asas à criatividade, tudo correu bem - mesmo com os olhares e risos de terceiros, ao verem o animal semi recente, a andar como se fosse dona do pedaço, exibindo uma panóplia de cores digna da carta de pantones e padrões, que fazem concorrência ao tapetes de patchwork.

Mas o que realmente testa a minha paciência, é o sistema de segurança integrado que as crianças têem: ralhamos, amuam, pegamos pela mão e eles fazem corpo mole, acabando por serem arrastados pelo chão. Paciente como sou, ali ficam e eu lá vou à minha vida. É uma medida eficaz de inserção de código de desbloqueio desse sistema de bloqueio infantil, pois em fracção de segundos, já se encontram à minha beira, de trombas é certo, sem falar comigo, em completo litígio. O que vale é que tanto lhes bate como some com a mesma velocidade.

É maravilhoso termos crianças na nossa vida, não é tudo complicações e chatices, mas dava um jeitaço um botão de "pausa" ou "stop", naquelas alturas em que acordaram para nos torrar o que resta da marmita. É que até os macacos-do-sótão se benzem! Deus nos valha.

Conseguem ser uns verdadeiros pica miolos.

frito e escorrido por Peixe Frito, 16.07.20

Está uma pessoa em um momento de relax, quando de repente...

- Ó pai! De onde é que vêm toda esta água do oceano?

Ainda consegue ser mais simpática, do que a pergunta de como é que o pai colocou a mana na barriga da mãe.

Falam de uma maneira, como se fossem donos de toda a experiência de vida!

frito e escorrido por Peixe Frito, 14.07.20

- Tia Peixa... tu já te casaste, não precisas de te casar outra vez.

Debitam estas coisas e uma pessoa fica assim a modos que... coiso. Mas ela está lá... Ó se está  

De vez em quando, mandam umas pérolas de sabedoria. Sacam de cada uma, cada coelho que salta da cartola quando menos se espera.

Bem que estas gerações mais novas, já trazem upgrades além do que a nossa compreensão alcança. Eu, com a idade dela, na minha santa ingenuidade de peixinha alevim, lá sonhava com casar quanto mais com o que fosse.